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Caminhar em Fronteiras... Liana Gesteira na NAU. Walking in frontiers...


Já se passaram 4 meses. A demora em colocar o depoimento da Lilica neste quadro, em parte, foi por causa da corredeira das águas-tempo desde então, mas, em parte, talvez maior, era espera de uma determinada imagem que por capricho meu era o que eu desejava para ilustrar. A imagem, que sairia do caderno de desenhos do Conrado, ainda não chegou. Quando chegar, talvez eu substitua essa do olhar da própria LiLica sobre si nas águas de lá. Para os amigos da NAU ainda pouco familiares com a língua portuguesa, traduzirei ao menos o poema que finaliza o depoimento, está bem?

It's been four months. The delay in putting Liana's testimony in this mural, in part, was because of the rapids of the waters-time since then, but in part, perhaps larger, it was due the waiting for a certain image that by my whim was what I wanted for to illustrate. The image, which would come out of Conrado Falbo's sketchbook, has not yet arrived. When it arrives, I may replace that above with the look of Liana itself on the waters there. For NAU friends who are still unfamiliar with the Portuguese language, I will translate at least the poem that ends the testimony, okay?

INCLEMENT WEATHER

In times of inclement weather, it's up to us to calm our hearts with the icy dip of a stream.

Bathe in a scorching hot sun of cerrado*.

Live as caterpillar on a rock.

Run with wolves on the plain.

Recognize yourself as pack.

Find directions with a twig.

Turning in a hawk on the tree.

Fight battles with the stars.

Smell rosemary of the bush.

Move the shadow in the river mirror.

Feel the wind in the bare chest.

Meditate on rapids.

Howl at the crescent moon.

Jump in a sky of concrete illusions.

Walking in frontiers.

*The Cerrado is the brazilian biome that could be compared to Savannah.

Na última semana de maio de 2017 estive participando de uma residência na NAU, um encontro com os queridos Hugo Leonardo, Conrado Falbo, Yahsmine Maçaira, e Laís Guedes. Um momento que foi adiado por várias intempéries: dias de febre, crises existenciais e dilúvios na estrada. Mas finalmente chegamos, eu e meu companheiro de viagem Conrado, em lua crescente.

Conheci a NAU em maio de 2016. E agora eu retornava. E logo na primeira conversa surge a pergunta. “Como fazer a volta para algum lugar?”. E logo em seguida outra: “Como se faz uma viagem e não ter para onde voltar?”. Perguntas que não foram ditas por mim, mas que reverberam até hoje como se eu as tivesse feito. Assim, esse texto virá com essa confusão de anotações do meu caderno de ócio, todas aqui realçadas em aspas. Não sei bem quem falou, mas foi anotado porque me encontrou.

Perguntar sobre uma “volta” me parece interessante ao pensar que a NAU se situa em Volta da Serra. Volta... Volta... Esse verbo parece ressoar como um vento sussurrando nos ouvidos. O que significa voltar a algum lugar? Ou então, voltar para algum lugar? Parece que uma experiência anterior atravessa esse lugar, seja de curiosidade ou pertencimento, então me interesso em entender “como” fazer essa volta.

Nas conversas que se seguiram o estado de “entre” permeava. Uma sensação de estar entre coisas, entre territórios, uma espécie de fronteira, de trânsito. Então, para essa volta me pareceu interessante “suspender o que já se sabe para estar” e, assim, “aprender a reaprender e aprender”. Uma reflexão interessante para iniciar a criação de um instituto de formação, ou uma (pluri) universidade de conhecimento. A questão que nos habitava durante alguns dias desse encontro: como criar um espaço de investigação de conhecimento, com novos territórios, mas com bases construídas? Seria possível transitar por esses espaços novos e também os já constituídos? Me volta a questão da fronteira, do trânsito. Pois essa ideia é o de possibilitar a criação de uma nuvem, que possa ser acessada de diferentes lugares, sem precisar se fixar num lugar específico. Parece desafio, mas também pertinente.

E lá numa conversa de lua crescente travamos outras discussões sobre o conhecimento. O que se quer para criar um espaço de trocas, de vivências, e assim conhecer juntos?. “É preciso legitimar o conhecimento que você já tem”. Mas também é preciso “não se acomodar e encontrar outros saberes”. A polaridade sempre se mostra falível e o trânsito entre elas parece sustentar mais sentidos. E nesse vai e vem, o “poder” parece uma palavra que precisa ser mais refletida em espaços de educação. Pois ao falarmos de escolas, universidades, institutos de formação, a ideia de “poder” sempre aparece como uma tensão a ser compreendida.

Uma das poucas certezas: estabelecer um coletivo de singularidades para projetos de mundo, utopias. Colocando todos esses conceitos (coletivo, singularidades, utopias) em terrenos móveis, ainda em formulação.

Outra certeza: precisamos cuidar de nossas crianças. Ou são elas que nos cuidam? Reencontrei com Maria, Luna e Maná o desejo de mover coisas invisíveis.

Assim aconteceu a minha vivência na residência da NAU, em Volta da Serra. Em meio a muitas danças. “Recebendo a beleza que a natureza nos traz a cada ciclo” (dito por Yashmine). “E concebendo a cada momento suas qualidades” (acho que dito por Hugo).

INTEMPÉRIES

Em tempo de intempéries, nos cabe acalmar o coração com o mergulho gelado de um córrego. Se banhar em um sol escaldante do cerrado. Viver lagarta numa pedra. Correr com lobos na planície. Se reconhecer matilha. Encontrar direções com um graveto. Virar gavião na árvore. Travar batalhas com as estrelas. Farejar alecrim do mato. Mover a sombra no espelho do rio. Sentir vento no peito desnudo. Meditar corredeiras. Uivar na lua crescente. Pular num céu de ilusões concretas. Caminhar em fronteiras.

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