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Nudez

Atualizado: 29 de mar. de 2019

Danço num esforço de despir cultura.


É muita roupa. É muita roupa.

Seja roupa velha, vivida, da história contada e da não contada, sejam roupas novas, inventadas para legitimar comportamentos, diferenças construídas, relações de forças.

Falo também literalmente das roupas que cobrem o corpo e o movimento, mas, de fato, estou falando antes das ideias que vestem o corpo.


Por que é preciso vestir tanto para autorizar?


Serão ideias domesticadas ou será a domesticação do corpo?


Ou será apenas parte da engenharia onipresente e sem cabeça de uma estimulação voraz para comprar, vender, consumir?


Se depender de novidades, não há muitas novidades no meu corpo nu a cada dia e, honestamente, é muito bom que seja assim, considerando que sei o fim que ele irá alcançar.

Mas há muito movimento, por certo, dentro e fora desse corpo, Meu singular. Ainda que coisa nada que outros corpos não tenham ou não estejam também experienciando, do seu modo próprio e inacessível para mim.

A Experiência (ou a vida de um indivíduo para si mesmo a cada instante): um modo próprio, singular e não compartilhável sobre movimentos comuns que habitam e que são o corpo de cada um.


Ah, pois, eis aí uma justificável necessidade das roupas e das ideias: um esforço para compartilhar alguma coisa, de algum modo, sobre Experiências substancialmente inacessíveis para outros que não o próprio corpo que a vive.

Ou seja, um exercício sobre o impossível!


Assim, danço nessa angústia. E danço, antes de mais nada, a partir da nudez. Porque aprecio. E porque me intensifica os sentidos, me abre e me expõe melhor aos movimentos do mundo fora do meu corpo. É uma aventura selvagem!


É sensual. É silencioso.


Quando é possível compartilhar com outros nesse silêncio, é fascinante! Amo esse encontro corajoso de inacessíveis! Tão imperfeito quanto certo!


Mas se é preciso vestir roupas e ideias para encontrar - e tristemente é preciso - prefiro uns panos mais rudimentares, uns que não cheguem a virar vestuário, moda, Cultura, peças que permaneçam na possibilidade de ser outra coisa. Trapos de palavras que não apertem as ideias em demasia e nem criem guerras.


Confissão: não tenho tantas ilusões em alcançar essa nudez que ficou tão bonita e sedutora nesse texto. Sigo tirando a roupa. Mas é muita roupa. É muita roupa. Dançar me ajuda.


Tirar a roupa pode ser um passo nessa direção da nudez. Ou pode ser só mais um bem estabelecido passo-de-dança.


A improvisação facilmente escapa...


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