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Desorientação

Escrevo perdido. Não sei para onde mover-me e de que modo. Muitas direções de movimento são possíveis, como sempre, mas o desejo se desgastou em todas as frentes. Como mover-me sem o combustível do desejo?


Tento coisas simultâneas e elas se anulam. Meu peso não encontra para onde cair – será isso possível? Meu peso está suspenso, acuado.


Espero um vento que me aponte, busco um curso d´água, cheiro um rastro de bicho. Entretanto, o que mais encontro são vetores de angústias e violência.


Estou paralisado na cena, e não há cena. O teatro esvaziou e eu fiquei. Todos se mudaram, ou a maior parte. Ou eu.


Sentir-se confortável na desorientação é parte da poética que exerci e ensinei. Precisaria me valer agora...


Este vazio que se abre no ato, no jogo de improvisação, há que saber acolhe-lo com tranquilidade, testemunha-lo, compartilha-lo com o público e esperar com humor e paciência. Já joguei esse jogo tantas vezes!


Talvez seja o caso que tenhamos apenas que nos despedir. E encerrar.


Ou talvez o jogo se reinvente.


E eu possa continuar jogando.


Dançando.


Então, assim perdido, escrevo para refazer meus mapas e oferecer-lhes tranquilamente a minha desorientação.


Mapas que reúno sob o nome de Dança Imprevista. Não terá força de um “sistema”, ainda que escrever irá possibilitar algumas organizações.


Será tanto pessoal quanto não original. Não há novidades. Estou velho demais para fingir ares de novidade. O que vendo são coisas usadas. São caminhos percorridos. Memórias, achados e invenções que, entretanto, quem sabe, possam gerar.


Gerar o quê?


Movimento. Poesia. Coisa não nascida.


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